Registos da Primeira Tertúlia "Cávado - Memórias e Vivências"

Foi numa tarde chuvosa que decorreu a primeira edição das tertúlias sobre o rio Cávado, na Livraria Centésima Página. Não obstante o mau tempo, a sala de eventos da livraria mostrou-se exígua para o considerável número de interessados. 
Nesta primeira sessão realizada no dia 17 de Outubro, foram principais oradores o Doutor. Aurélio de Oliveira, Professor aposentado da Universidade do Porto e o Dr. Manuel Albino Penteado Neiva da Comunidade Intermunicipal do Cávado. O primeiro incidiu a sua abordagem sobre o papel que teve o rio, desde a romanização, no desenvolvimento económico e social da região. Neste âmbito, apontou a sua remota navegabilidade como fundamental para o transporte da variedade de produtos que abasteciam Bracara Augusta. Fez referência também aos pontos mais importantes de atravessamento, salientando por exemplo que, na sua opinião, a actual Ponte de Prado resulta de uma construção romana. Além disso, fez menção também a pormenores pouco conhecidos ligados ao seu aproveitamento como a possibilidade de ser utilizado, no século XVI, na zona da barca do Lago, de estaleiro de construção de embarcações marítimas. Aludiu ainda aos vários projectos que, desde o século XVIII, foram gizados para a navegabilidade do rio e às condicionantes económicas e políticas, que impediram a concretização da maior parte desses projectos. Aurélio de Oliveira referiu que, desde o período filipino, foram efectuados diversos investimentos para o desenvolvimento de infra-estruturas rodoviárias importantes para o desenvolvimento da economia nacional, e as construção de pontes e o serviço de barcas no rio Cávado se inseriram nesse contexto. 
Na parte final, salientou o papel estratégico em termos militares que teve o rio. Serviu este, ressalvou o historiador,  durante muito tempo, como tampão de resistência dos povos da Galiza perante os invasores romanos, mais tarde durante o primeiro período da Reconquista cristã nos séculos XI e XII, com a implantação da ordem dos Templários ou mesmo durante a ocupação filipina.
O Dr. Penteado Neiva lamentou, no inicio da sua abordagem o esquecimento secular de que foi vitima o rio que remonta mesmo ao século XVI. Disse o historiador que, passados dois anos da elevação de Esposende à categoria de vila por D. Sebastião, e de este ter salientado a importância do Cávado como porto de mar, passados dois anos, mediante queixa de que a barra estaria tolhida por rochas, isso prejudicaria a alfândega. Deste modo, o aproveito do seu potencial como via de comunicação foi logo posta em causa. Mas a barra de Esposende aparece representado em todas as cartas náuticas devido à sua morfologia acidentada.
O concelho de Esposende apresentou-se sempre isolado em relação aos outros concelhos ribeirinhos na questão da valorização do rio enquanto factor de desenvolvimento, afirmou Penteado Neiva.
Depois o investigador elenca, de forma cronológica, os vários projectos e os nomes dos respectivos engenheiros que, a partir de 1795, se debruçaram sobre as questões técnicas da navegabilidade do rio Cávado. O mais importante e estruturante foi o de Custódio Villas Boas em 1795 que chegou a arrancar, mas que falha por vicissitudes económicas e políticas durante o período das revoluções francesas. Todos os outros que se lhe seguem, por um motivo ou por outro, encalham.

As tertúlias continuam, entretanto, com alguns dos participantes que aproveitam a presença dos oradores para discutir algumas das opções que marcaram e marcam o destino do Rio Cávado.



























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