Receção à Bicavalaria do Minho no dia 22 de Janeiro de 2012

A Associação promoveu uma recepção à Bicavalaria do Minho. Este acto inédito, decorrido no dia 22 de Janeiro de 2012, teve como objectivo principal a divulgação da associação, ao mesmo tempo que constituiu um momento de promoção da Vila de Prado e de homenagem às suas gentes e tradições. A cerimónia foi amplamente difundida e registaram-se elogios por parte das instituições parceiras na sua organização, ao ponto de existir vontade por parte dos envolvidos em continuar com manifestações similares no próximo ano.
Recordamos agora aqui nesta plataforma a sua realização. Foi montado um palco por parte da Junta de freguesia local para o evento. Os sócios da Bicavalaria e respectivos veículo estacionaram no Campo da Feira, no espaço reservado. No início da cerimónia foi lida uma mensagem de boas vindas pelo senhor Presidente da Junta de Freguesia da Vila de Prado, Dr. Paulo Gomes. Seguidamente, procedeu-se ao sorteio de uma mulinha (veículo) de entre todos os veículos credenciados. O feliz contemplado foi atado a um sobreiro.
Após a entrega de prémio, Diamantino Esperança, actor da Companhia de Teatro Amador de Braga Nova Comédia Bracarense, procedeu à declamação do poema “O ELOGIO DOS BURROS NA FEIRA DOS VINTE”, de Asnus Laureado que aqui se reproduz:

O ELOGIO DOS BURROS NA FEIRA DOS VINTE (*)


Estacionamento dos veículos no Campo da Feira em Prado
Ó vós cavaleiros do novo milénio,
Que nesta terra buscais primeiro
A aventura e o honroso sortilégio
De serdes atados a um sobreiro!

Aqui chegastes em ruidoso tropel,
Pela justa cobiça acicatados,
Mal sabendo que o desejado laurel
A um só burro será outorgado.

Ocupai pois com raça e bravura
Veículo Citroen 2CV sorteado 
O lugar que vos foi destinado,
Pois não faltam aqui cavalgaduras
Pelas quais podeis ser trocados!

É esta a famosa Feira dos Vinte,
Da mui antiga e leal vila de Prado,
Onde se mostra com requinte
A beleza dos burros de Portugal!

Neste Largo de São Sebastião,
Ponto de encontro de tantos festeiros,
Pena é (e digo-o do coração),
O atar da "mulinha"
Que haja mais burros que sobreiros!

Vou pedir à Junta de Freguesia
Uma plantação de sobreiros à justiça,
Pois não faltam burros de categoria
Sem coçar a franja na cortiça!

Um sobreiro para cada burro!,
Será o lema do novo Portugal,
E dispensaríamos (se andássemos de burro)
A ajuda da troika internacional!


Foto de família
Portugal, em souto transformado,
Do nosso Minho até ao Algarve,
Em cada tronco solenemente atado
De cada sítio o maior alarve!

Temos burros a merecer distinção,
Temos uns em fins de mandato,
(seria condenável a exclusão),
e outros com as seiras cheias de pataco!

Os burros são muito inteligentes,
E até nisso honram a sua espécie,
Uns abanam as moscas das orelhas,
outros escoiceiam os criados com os pés!

Alguns andam curvados pelos caminhos,
Por levarem no lombo tanto dinheiro,
Se foi roubado não sou eu que o digo,
Que a defender os burros sou o primeiro!

Se o dinheiro desapareceu dos bancos,
Não foi o Costa nem o Loureiro,
Que são burros de toda a confiança,
Assim como do Privado o Rendeiro.

Não foram os burros do Terreiro do Paço,
Que levaram o país à bancarrota,
Pois fartaram-se de enfardar a palha,
Que veio aos montes da Europa!

E para que o país fosse evoluído,
Muitos burros foram por canudos
Às universidades clandestinas,
Onde se fizeram licenciados e tudo!

E há burros com pensões vitalícias,
(são uns milhares de euros por mês),
por servirem o estado uns mesitos,
coisa só possível no burro português!

E até houve um caso especial,
Merecedor de grande simpatia,
Porque um tacho deixou em Portugal,
Para em França estudar Filosofia!

Devemos tudo a estes burros excelentes,
Oxalá a raça nunca perca o garbo,
Das empresas públicas são presidentes,
E pelos amigos distribuem os cargos!

E nem os burros que são magistrados,
Podem ser acusados do falhanço,
Porque alguns passaram num exame
À custa de esforçado copianço!

São os burros o nosso valimento,
E eles até nos livrariam da pelintrice,
(ficaríamos ricos em pouco tempo),
se vendêssemos à Europa tanta burrice!

E até o povo alargava as vistas,
E pagava de bom grado a contribuição,
Se ouvisse bem as entrevistas,
Que os burros dão na televisão!

Neste Portugal de burros querido,
Temos a melhor escola do mundo,
Onde os jotinhas dos partidos
Se fazem políticos num segundo!

Ó vós cavaleiros andantes,
Montados em cavalos de lata,
Esta terra ireis passar adiante,
Sem albarda nem arreata.

Enobrecei a vossa condição,
Mantende os burros no poder,
Que nesta vida a única salvação
É ser burro até morrer!

Vós que desta Feira saís,
Cumulados de justa honraria,
Zurrai ao mundo a vossa alegria
E fazei de Portugal uma estrebaria!

ASNUS LAUREADO
(*) Poema inédito, elaborado para este evento

Posteriormente à leitura do poema, a Katavus, juntamente com a Bicavalaria do Minho e a Junta de Freguesia local, atribuíram lembranças a todos os participantes, sendo o actor também, especialmente, agraciado com uma planta. A cerimónia terminou com um pequeno lanche,  uma foto de família e, como forma de despedida, uma sonora e altissonante relinchadela, em uníssono, por todas as mulinhas equipadas. Este evento teve o apoio da Junta de Freguesia de Prado, da Tipoprado Artes Gráficas Lda, da Farmácia Universal, da Farmácia de Prado Lda, da Viveiros do Cávado Lda, da Casa Fundevila, do Dr. Jorge Pedrosa (professor e escritor)  do Sr. Nuno Lago (Marchante de Prado) e de Serra Nevada (historiador, escritor).

A importância simbólica deste acto radica na seguinte tradição:

Feira Franca da vila de Prado
“Feira dos Vinte­­”
“Feira dos Burros e das Trocas”
“Já marquei um lugar para ti”

Por Jorge Oliveira,
DM, 20.Janeiro.2004


A troca dos animais
É uma das manifestações mais antigas e com tradição fortemente enraizada na vila de Prado. O momento mais alto da festa acontece esta manhã, com a feira franca, conhecida por “Feira dos Vinte”, onde se vendem e trocam animais, sobretudo gado cavalar e bovino. (…)

O dia de S. Sebastião em Prado começou a ser festejado com alguns dias de antecedência, tendo levado durante o fim de semana muita gente ao centro da vila.

Durante o dia de hoje é esperada também uma grande afluência de pessoas provenientes de vários concelhos minhotos (…).

A iniciativa mais conhecida é a “feira dos vinte”, também conhecida por “feira dos burros e das trocas”, que começa bem cedo em frente ao largo de S. Sebastião.

Rezam as crónicas que era nesta feira, já muito antiga (há quem a situe no início do século XIV), que antigamente se estabelecia o preço do gado para toda a região, atendendo ao facto de ser a primeira do calendário anual de feiras do género a nível nacional.

Isso hoje já não acontece, e as trocas de animais também já quase não existem, mas a Feira dos Vinte continua ainda bastante participada, graças às dezenas de criadores de gado, provenientes de vários pontos do país, que se deslocam a Prado para fazer negócio.

Pelo centro da vila instalam-se também neste dia muitos vendedores de maquinaria agrícola e produtos pecuários, vestuário, calçado, brinquedos e produtos alimentares (doces, pão, fruta e legumes), bem como “roulottes” de comes e bebes, carrocéis e carrinhos de choque.

TRADIÇÃO DAS PROVAS MANTÉM-SE

Aliada a esta festa, existe a tradição de confeccionar “papas de sarrabulho”, em tascas e casas particulares, e a “noite das provas”, um ritual que se realiza na véspera do dia 20.

«Antigamente a “noite das provas” era mais concorrida, porque havia muitas tascas e casas de pasto em Prado. Agora, como há menos, o movimento é menor, mas mesmo assim pradense que se preze não deixa de ir beber um bom vinho e comer umas saborosas papas na véspera da festa» (…).

Além das papas de sarrabulho, outras iguarias como frango, bacalhau e rojões podem ser encontradas nas casas de pasto ou nas várias tasquinhas instaladas pelo centro da vila.

A noite de véspera da feira servia também para acolher os criadores de gado que vinham de longe. Muitos deles, sobretudo os mais endinheirados, pernoitavam numa estalagem que existia na vila, à saída da ponte românica, e deixavam os animais no estábulo da casa. Outros havia que passavam a noite em claro ou dormiam na casa de amigos e marcavam o lugar deixando os animais presos por uma corda aos muitos sobreiros que enchiam o largo de São Sebastião. Daí terá surgido a graça, ainda hoje muito pronunciada na região, “já marquei um lugar para ti”.

Os tempos agora são outros e já ninguém deixa os animais presos de noite no largo da feira, mas há quem continue a cumprir a tradição de prender os burros aos sobreiros.

Com o intuito de melhorar o aspecto da feira e evitar confusões no recinto, a Junta de Freguesia decidiu proibir a permanência de veículos de carga no recinto. Os transportadores de gado são agora obrigados a retirar os veículos logo que procedam à descarga do gado. (…)

Apesar deste condicionalismo, a Feira dos Vinte continua muito participada e a gerar muitos negócios mas terá perdido alguma importância nos últimos anos. É que as limitações ao movimento de gado impostas pelas autoridades sanitárias para se evitar a propagação de doenças terão afastado alguns dos principais criadores de gado.

Concluía o jornalista com uma certeza do presidente da junta da época de que a feira daquele dia (20.01.2004) iria ter um grande movimento até porque era esperado um dia com sol. Acrescentamos nós, em 2012, que as limitações ao movimento de gado daquela época já não são tantas hoje, felizmente.

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